sábado, 26 de junho de 2021

OPERAÇÕES SECRETAS NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

 

OPERAÇÃO LOYTON (SAS) 

Região do Vosges (França - 1944/45)


 
SOE (Serviço de Operações Executivas)

Grupo criado pelos ingleses em julho de 1940 a pedido do Primeiro Ministro da Inglaterra Sir Winston Churchill durante a Segunda Guerra Mundial, num período que a guerra ainda pendia fortemente para o lado dos alemães, para que pudessem realizar missões especiais por trás das linhas inimigas com intuito de promover nos mais diversos locais do mundo ações causando destruições e desordens em equipamentos e instalações dos alemães, capturando e removendo soldados ou oficiais nazistas para serem enviados à Londres para serem interrogados.

Os homens e mulheres pertencentes a esse grupo foram designados como “Commandos”. Eram recrutados junto ao exército regular inglês, mas podiam pertencer a outros países, sendo inclusive alguns civis por opção, que tinham características especiais, passando por rigoroso treinamento e na maioria das vezes antes de saírem nas missões acabavam sabendo que a possibilidade de retorno com vida era muitas vezes inferior a 10%. Mesmo assim todos que eram admitidos ou indicados se ofereciam como voluntários e jamais esconderam sua satisfação em pertencer a um grupo tão valoroso.

Um dos homens pertencentes a esse grupamento era o Príncipe Russo Capitão Yuri “Yurka” Galitzine que foi vital na luta pela liberação de verbas e suprimentos, além do auxílio com toda a burocracia para os homens do SAS na Operação Loyton durante sua permanência no Vosges, tanto no período de ocupação e combate quanto após, na procura e identificação dos restos mortais dos soldados e na caça aos oficiais nazistas criminosos assassinos. 
 
Insígnia do SOE
 
 
SAS (Serviço Aéreo Especial)

O Grupamento do SAS - Serviço Aéreo Especial do Exército Britânico, foi criado em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, na África do Norte, por um tenente escocês chamado David Stirling. Seus símbolos principais e marcantes eram uma adaga circundada por um par de asas amarelas com os seguintes dizeres: “Who Dares Wins” (Quem Ousa Vence) e a tradicional boina vermelha. A unidade recebeu esse nome para que os alemães achassem que haviam Commandos paraquedistas servindo ao exército britânico no Cairo a época. 
 
Uniforme dos soldados SAS com a tradicional boina vermelha
 
Seu conceito inicial projetava uma força ofensiva móvel de tamanho reduzido, que combateria atrás das linhas inimigas, com um objetivo estratégico, e outros secundários, atacando qualquer alvo de oportunidade, com autonomia própria.

Em agosto de 1944 o SOE pediu ao SAS que reunisse um pequeno grupo de paraquedistas para saltarem atrás das linhas inimigas com o intuito de realizar uma missão de ocupação/destruição além de causar alvoroço e tentar promover o treinamento da Resistência na França ocupada, pelos bosques e florestas densas da Região do Vosges que era bem próxima à fronteira alemã.
 
Insígnia do SAS

 
 OPERAÇÃO LOYTON

A Operação Loyton foi o codinome dado a essa missão entregue ao Serviço Aéreo Especial (SAS).

A região no nordeste da França pouco povoada composta de colinas cobertas de madeira, pastagens em vales e pequenas aldeias isoladas, uma área ideal para uma pequena força invasora móvel operar.

Naquele momento o Exército Alemão reforçava a área, contra o Terceiro Exército Americano do General George Patton que estava muito próximo estacionado em Nancy (aguardando suprimentos devido ao mau tempo) como ela fazia fronteira com a Alemanha, Hitler ordenou de forma irrestrita que todos os soldados alemães disponíveis fossem ali alocados para defenderem a região a qualquer custo.

Os alemães moveram reforços, incluindo a experiente 17ª Divisão SS Panzergrenadier Götz von Berlichingen, para a área e rapidamente perceberam a presença dos Commandos e conduziram várias operações para destruí-los.

A missão ocorreu entre os dias 12 de agosto e 9 de outubro de 1944, com um início bastante desastroso pois os paraquedistas não conheciam quase nada da região e precisaram contar com a valorosa ajuda da resistência francesa formada pelos Maquis (Povo da Resistência Francesa que vivia na floresta) no entorno das pequenas aldeias. Foram lançados de paraquedas nas montanhas sobre as florestas.
 
 
Região do Departamento do Vosges na França

 
OPERAÇÃO WALDFEST (Operação Festival na Floresta)

Quando os oficiais alemães tomaram conhecimento através da ajuda de delatores franceses das aldeias da chegada desses Commandos iniciaram imediatamente ações para reprimi-los recebendo ordens expressas de Berlim para prender e matar os homens do SAS e dos Grupos de Maquis que combatiam lado a lado naquele momento. O lema dessa operação definido por Berlim era: “Nacht und Nebel” (Noite e Neblina) ou seja, todas as ações de extermínios contra esses inimigos deveriam se perder como uma noite sob a neblina... tudo nas sombras.

Foi lançada então a mais perigosa das ações de repressão chamada de Operação Waldfest (Operação Festival na Floresta) que ficou sob a responsabilidade dos seguintes oficiais alemães:

Pela Wehrmacht os Generais Erich von Kirchbach e Hermann Balck, pela Gestapo e SS Carl Oberg, SS e líder policial na França (originalmente baseado em Nancy, mas realocado para Fraize em meados de setembro), Friedrich Stuhr, SS e líder da polícia na Alsácia, e Erich Isselhorst, Comandante da Sicherheitspolizei em Baden e Alsácia.

A importância da Operação Waldfest pode ser vista no fato de que o próprio Heinrich Himmler participou de uma conferência em Gérardmer em 6 de setembro de 1944 para garantir que a fronteira alemã no oeste fosse defendida a todo custo.

A base principal da operação foi Schirmeck (pequeno vilarejo à época) local onde os alemães criaram um campo de segurança (concentração) Schirmeck-Vorbruck comandado pelo Oficial nazistar Karl Buck (que havia comandado anteriormente o Campo de Auschwitz na Polônia). Schirmeck era um sub-campo do campo de concentração de Natzweiler-Struthof (região de esqui próxima a Shirmeck) onde na realidade funcionava o campo maior.

Foi uma operação de terra arrasada nazista alemã e contramedida à atividade da resistência francesa nas montanhas do Vosges. Realizada em duas etapas, entre setembro e novembro de 1944, por unidades da Wehrmacht e Allgemeine SS. O objetivo era conter a Operação Loyton, desmantelar a resistência francesa local, os Maquis, e destruir aldeias locais para evitar que servissem de abrigo aos inimigos. Uma dessas aldeias importantes era Moussey.

A operação destuiu por toda região um total de 7.500 edifícios (casas celeiros) executou 39 soldados do SAS capturados como parte da Ordem de Hitler, quase 1.500 civis franceses foram mortos em combates ou executados e cerca de 14.000 civis franceses deportados para campos de concentração ou de trabalhos forçados. Dos quase 3.800 civis deportados para campos de concentração, dois terços morreram lá.



AÇÃO


Inicialmente os ingleses do SAS e os franceses dos Maquis tiveram muita dificuldade (os armamentos nas mãos dos Maquis além de poucos eram obsoletos). Os homens do SAS saltaram com pouco equipamento na esperança de estabelecer bases ocultas na mata de onde pudessem enviar e receber mensagens de Londres a fim de receber em campos improvisados, através de lançamento aéreo, as provisões necessárias para a manutenção do grupo.

A presença constante dos alemães em patrulhas na área impedia as entregas através dos voos noturnos tornando a situação cada vez difícil.

Porém a astúcia desses homens, que eram capazes de fazer a diferença se adaptando rapidamente e mudando constantemente seus acampamentos base à medida que os alemães apertavam a procura, mantiveram-nos de pé conseguindo indicar outros locais mais distantes onde tiveram sucesso nos recebimentos dos suprimentos.

O Coronel Brian Morton Foster Franks que comandava de Londres as ações resolveu pessoalmente assumir o comando do grupo in loco.
 
Coronel Brian Morton Foster Franks
 
Durante um tempo razoável os Commandos conseguiram infringir aos alemães muitas perdas de homens entre soldados, oficiais, veículos e armamentos. Foram utilizadas bombas especialmente desenvolvidas para surpreender os inimigos que foram implantas nas ações desenvolvidas por pequenos grupos em estradas, cruzamentos, pontes e ferrovias. Foram despachados via lançamento de paraquedas seis Jeeps americanos que serviram bem e de forma mais rápida para o deslocamento dos homens durante essas ações. 
Os alemães percebendo que com o atraso no avanço das tropas de Patton os Commandos estavam em situação difícil aumentaram o efetivo na região. Com seus suprimentos se esgotando as coisas se dificultaram ainda mais para os homens do Coronel Franks que acabaram sucumbindo aos inimigos, nesse instante Londres resolveu ordenar a retirada de todos eles e encerrar a missão. 
O SAS recebeu ordens de formar grupos menores de 5 ou 6 homens, para seguir por caminhos diferentes e tentar retornar às linhas aliadas. Durante as operações de combate e fuga, 32 homens foram capturados e posteriormente executados pelos nazistas. 
A maioria dos soldados do SAS mortos foram enterrados, nus, sem uniformes e identificação para que seus corpos se encontrados posteriormente não pudessem ser reconhecidos.

 
PÓS GUERRA

Como foi registrada a chegada de muitos poucos homens depois da debandada geral à Londres, o SAS através do Coronel Franks resolveu criar uma unidade para voltar à área do Vosges já libertada ao final de 1944 e início de 1945 com o propósito de contatar moradores da vilas locais, entrevistar pessoas que soubessem algo sobre paraquedistas ingleses do SAS que pudessem ter sido vistos ou presos pelos nazistas a fim de identificá-los ou encontrar seus restos mortais para que seus regimentos e suas famílias pudessem ser informados.

O Coronel Franks organizou um pequeno grupo de homens que havia estado na mesma região e escapado dos horrores para que retornassem nessa busca e também sair à caça dos principais responsáveis por suas mortes à fim de levá-los aos tribunais de crimes de guerra para serem julgados e punidos exemplarmente pelo que fizeram.

Nesse momento porém a guerra acabava de findar-se na Europa, Churchill perdera as recentes eleições ao Parlamento Inglês no início de 1945 para um candidato trabalhista (naquele momento o povo inglês que havia sofrido tanto com a guerra em si não desejava mais falar sobre violência) Americanos e Ingleses já não se interessavam mais tanto da caça aos nazistas, uma vez que muitos deles se tornaram peças interessantes para servir aos propósitos aliados (como por exemplo aos americanos, Wernher Von Braun um dos mais importantes cientistas alemães que depois acabou sendo peça chave no Projeto Paper Clips, na construção da bomba atômica) e mais tarde na corrida dos foguetes contra os Soviéticos para a chegada do homem à lua. Naquele momento se interessavam mais sim pela luta e combate ao avanço do comunismo de Stálin pelo Leste Europeu, inclusive há historiadores que afirmam fortemente que naquele momento a ideia dos aliados era simplesmente unirem-se aos alemães derrotados e seguirem empurrando a força soviética de volta ao seu território. A ideia principal, que não se realizou depois, era que se evitasse a formação pelos russos de um bloco comunista no Leste Europeu que mais tarde ocorreu levando o título dado pelo próprio Churchill de “Cortina de Ferro”.

Nesse momento que as desmobilizações de tropas e exércitos aliados em toda Europa se concretizava, o pequeno e secretíssimo grupo do SAS, que até então era apenas uma unidade desconhecida da maioria dos ingleses também estava com seus dias contados. Todos os homens em Londres receberam a ordem de retornarem à suas unidades de origem e os que não fossem militares de carreira deveriam solicitar sua baixa.

O Coronel Franks um dos poucos a retornarem com vida à Inglaterra não se daria por vencido e sabia que tinha que dar uma resposta aos familiares dos mortos em ação, resolveu então manter um pequenino e quase clandestino Grupo de Caçadores de Nazistas e para isso solicitou o valioso auxílio de alguns homens que combateram na região e um deles o já citado Príncipe Russo Yuri “Yurka” Galitzine Capitão do SOE um homem incansável nas suas ações por trás de todo apoio que o SAS recebeu durante o período ativo dos homens no Vosges, que depois viria a ser um dos maiores fomentadores especializando-se nos trabalhos de identificação dos crimes de guerras de oficiais nazistas no complexo prisional de Natzweiler-Struthof onde muitos homens do SAS e Maquis da região foram mantidos presos, torturados e mortos. Seu papel posteriormente foi gigantesco na busca de recursos, já dificílimos a época, para manter e empreender a manutenção do grupo. Outro nome que viria a ser de grande valia foi o do incansável e mais duro elemento que chefiava esse grupo, o brilhante Oficial de Inteligência Major Eric “Bill” A. Barkworth com papel decisivo na execução e no sucesso desta missão além do Sargento Fred “Dusty” Rhodes outro importante elemento desse pequeno grupo. Todos foram condecorados mais tarde pelos feitos notáveis. 
 
Major Eric “Bill” A. Barkworth
 
Príncipe Russo Capitão do SOE Yuri “Yurka” Galitzine
 
Um dos jeeps dos caçadores de nazistas com o Major “Bill” Barkworth a esquerda, 
estes veículos rodaram mais de 35.000 kms no pós guerra na busca dos corpos das vítimas e dos responsáveis nazistas
  
 
Jeep básico equipado com metralhadoras com dois soldados do SAS
 

 
Descrição de um típico jeep do SAS (Europa 1944-45)

1 - Metralhadora Vickers K do motorista.

2 - Metralhadoras Vickers K gêmeas com ângulo de tiro de 150° em azimute, para o artilheiro da frente.

3 - Caixa de munição para os tambores das Vickers K.

4 - Kit de primeiros socorros.

5 - Caixa com dois tambores de munição para as Vickers K, com 100 cartuchos de .303 cada tambor.

6 - Bolsa grande de combate para toda a tripulação.

7 - Bolsa pequena pra itens de primeira necessidade.

8 - Metralhadoras Vickers K gêmeas para o artilheiro traseiro.

9 - Metralhadora Bren 303.

10 - Tanque extra de combustível blindado coberto com espuma de borracha - um de cada lado do veículo.

11 - Rede de camuflagem do veículo.

12 - Metralhadora MP40 alemã.
 
 Juntos foram responsáveis pelo encontro e identificação dos restos mortais 32 soldados do SAS, além de soldados canadenses e americanos que se encontravam escondidos na região, mortos e enterrados nas mesmas covas juntamente com os ingleses. Conseguiram levar aos tribunais Ingleses, Americanos e Franceses um número significativo de oficiais, médicos e outros elementos nazistas, porém nos anos de pós conflito parece que os interesses em explorar o conhecimento desses assassinos e usá-los contra os perigos do comunismo fez com que as sentenças nos tribunais para muitos deles fossem brandas em troca de colaboração, outros importantes chefes nazistas tiveram ainda suas penas de morte comutadas para prisão perpétua e mais tarde acabaram sendo libertados, os tribunais parecem que já não davam mais à eles e seus crimes a devida importância.

Mais tarde durante as décadas seguintes Simon Wiesenthal, um judeu sobrevivente de campos de concentração tornou-se um caçador implacável desses assassinos nazistas pelo mundo, muitos foram presos, enviados à Israel, julgados e executados.

O SAS foi quase totalmente desmobilizado em junho de 1946, porém continuou agindo de forma clandestina até meados de 1948/49 quando foi oficialmente anexado a um novo grupo criado pelos ingleses, mas o mundo atravessava outro período que mais tarde veio a ser conhecido como Guerra Fria.

As ações de todos esses homens foram de vital importância pois eles deram suas vidas na luta pela liberdade dos povos do mundo na erradicação do fascismo e portanto jamais deverão ser esquecidos.
 
Memorial à operação no National Memorial Arboretum
 
 
Fontes:

SPECIAL AIR SERVICE - 2ª Guerra Mundial - África do Norte 1941-43

#operationloyton Instagram posts (photos and videos) - Picuki.com

Operação Loyton

Operation Loyton - Wikipedia

SAS Nazi hunters proud to be known as Bigots | Daily Mail Online

The Services Edition — Extraordinary Editions

List of Special Air Service Members - SpecialAirServiceDuringWW2

Serviço Aéreo Especial – Wikipédia, a enciclopédia livre

Special Air Service SAS V – Toda Historia | El lugar donde discutir y aprender sobre Historia

The Brigadier And His Brigands: The Complexity Of Commanding The SAS In 1944 – Chalke Valley History Festival

Special Operations Executive – Wikipédia, a enciclopédia livre

Inside story of SAS legends who hunted Hitler’s firing squad torturers in WW2 - Daily Star

The Commandos | National Army Museum
 
  Livro “Caçadores de Nazistas” - A ultrassecreta unidade SAS e a caça aos criminosos de guerra de Hitler
 

 

Nota do Autor do Blog:

O texto escrito por mim para este post foi baseado nas minhas pesquisas nos sites citados acima e principalmente após a leitura do Magnífico Livro “Caçadores de Nazistas” - A ultrassecreta unidade SAS e a caça aos criminosos de guerra de Hitler do excelente autor Damien Lewis, a quem parabenizo pela pesquisa e excelente narrativa, sugerindo aos interessados no aprofundamento do tema sua leitura.

Se por algum motivo omiti alguns detalhes não foi por falta de interesse em fazê-lo, procurando realizar uma escrita sucinta para levar aos amigos leitores do blog uma leitura aprazível. 
 
-.-.-.-.-.-

Até o próximo post!
Forte Abraço
Osmarjun
 


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