Eu sempre soube, desde os
primeiros momentos em que me apaixonei pelo tema Segunda Guerra Mundial e mais especificamente
quando resolvi ler e estudar sobre a participação do Brasil no evento mais
importante da história da humanidade, que haveria muita história a ser lida,
contada, aprendida e para que nossos heróis pudessem permanecer imaculados
apesar de toda crítica e toda desconfiança de um povo que ainda insiste em
dizer que a nossa participação no evento foi pífia ...
Quando o cineasta brasileiro Erick
de Castro em 1999 dono da BSB Cinema, uma pequena produtora de Brasília, resolveu
peitar numa empreitada difícil de acreditar, ou seja, contar em um documentário
toda a participação dos heróis brasileiros, pilotos da FAB (Força Aérea
Brasileira) que estiveram nos céus do teatro de operações de guerra na Itália,
muitos tremeram, mas ele sabia muito bem o que desejava trazer à tona!
Eu assisti pela primeira vez ao
documentário “Senta à Pua” pouco depois do lançamento e me apaixonei, depois
foram outras tantas vezes e em cada uma delas sorvendo cada palavra, cada olhar
daqueles veteranos, não sosseguei enquanto não consegui comprar e manter uma
cópia em minha coleção particular, para poder revê-la em casa sempre mostrando
aos amigos, familiares, enfim a todos que se achegassem.
Capa do DVD
Erick, jamais imaginou que aquele
pequeno gesto de colher depoimentos sinceros, seria na realidade a última vez que
a história veria reunidos juntos em depoimentos todos aqueles heróis do 1º
Grupo de Aviação de Caça, que ajudaram a libertar o território italiano, coisa
incrível, inimaginável se pensarmos agora, mas talvez um “feeling” que somente alguns
dos grandes diretores de cinema tem...
Livro de autoria do Rui
Ali estavam contando cada um ao
seu jeito, entre lágrimas e risos muitas vezes, suas histórias nas rotinas de
missões sobre os campos de guerra italianos o Brigadeiro Corrêa Netto,
Brigadeiro Meira, Brigadeiro Neiva, Brigadeiro Joel Miranda e o Brigadeiro Rui
Moreira Lima e um número incontável de outros veteranos tecendo impressões e
depoimentos sensíveis.
P-47 Thunderbolt pilotado pelo Rui na Itália
Todos unânimes em realçar a
grande liderança do seu comandante maior o Brigadeiro Nero Moura que os liderou
na campanha italiana. Naqueles
depoimentos um deles me chamou muito a atenção, não só pelo jeitão simples e
agradável de falar, mas por parecer um líder nato daqueles que sobreviveram aos
anos posteriores da guerra e assim formaram o Grupo de Veteranos que continuaram
encontrando-se ano a ano, em almoços comemorativos na cidade do Rio de Janeiro,
na maioria das vezes para apenas sentirem-se jovens novamente em outras para
beber e darem seus Adelphis (homenagem especial criada por eles para
homenagearem aos amigos que se partiram).
O Brigadeiro Rui passava à mim aquela impressão de “Avozão”, sabe aquele
avô querido cheio de histórias para contar e sempre de muito bom humor? Esta
era a sensação que tinha por ele...
Medalhas recebidas pelo Rui
Segui por muito tempo sua
trajetória, lendo alguns de seus livros, comparecendo em algumas entrevistas,
poucas, em que pude assistir e prestar muita atenção à suas histórias.
Descobri na sua biografia o grande
homem que é, mesmo no pós-guerra, enfim tudo aquilo que um “neto” orgulhoso
poderia querer saber de seu avô. Rui apaixonou-se tanto pela Itália que acabou
fixando residência em Milão na Itália, onde dividia sua estada com o Brasil em
alguns meses do ano.
Enfim todos aqueles que
acompanham a história de Rui sabem até de muito mais coisas que eu ouso narrar
aqui. Rui Moreira Lima era meu Herói Favorito!
Rui no cockpit do seu avião
Meses atrás a notícia de que ele
havia sofrido um AVC deixou-me bastante preocupado, principalmente pela sua
idade já avançada, porém como as notícias publicadas foram bem poucas, pelo
menos restava à esperança de que tudo caminhava para uma recuperação
satisfatória.
Desculpe Amigos e Seguidores do
meu Blog, mas hoje estou muito triste, triste porque o dia nasceu frio, com
pouco sol, pelo menos na minha cidade, algo que se anunciava trazer com o
passar das horas uma notícia que eu jamais quis receber. No período da tarde,
as palavras ouvidas no rádio do meu carro quando retornava do trabalho fizeram-me
descobrir a razão daquele aperto que vinha sentido no peito desde a manhã...
Matéria escrita a Agência Brasil na Internet pelo repórter:
Vinícus Lisboa
Rio de Janeiro - O Brigadeiro do ar Rui Moreira Lima, de 94 anos, veterano da 2ª Guerra Mundial e fundador da Associação Democrática e Nacionalista dos Militares (Adnam), morreu na madrugada de hoje (13), no Hospital Central da Aeronáutica, onde estava internado há 47 dias na unidade de terapia intensiva (UTI) por causa de um acidente vascular cerebral. Ele teve uma parada cardíaca às 4h30.
O brigadeiro deu depoimento à CNV em outubro do ano passado e sua história motivou a criação do grupo de trabalho dedicado a militares perseguidos. Na abertura da sessão de hoje do grupo, o consultor Paulo Ribeiro da Cunha lamentou a morte e disse que o militar era uma pessoa extraordinária, que inspira o processo de luta pela verdade. "Hoje nossos trabalhos serão permeados pela emoção dessa perda".
Nascido em 12 de junho de 1919, em Colinas, no Maranhão, o Brigadeiro foi piloto de combate na 2ª Guerra Mundial, em missões na Itália.
De volta ao Brasil, chegou a ser comandante da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio, mas foi perseguido pelos militares a partir de 1964, por ter se negado a apoiar o golpe militar.
Chegou a ser preso três vezes. Na última, seu filho, Pedro Luiz Moreira, foi detido como forma de chegar a ele. Pedro deu depoimento ontem (12) para a Comissão Nacional da Verdade e para a Comissão Estadual da Verdade do Rio, contando que a perseguição a seu pai se estendeu a toda a família.
O corpo do militar será velado no Instituto Histórico da Aeronáutica, às 14h, e o enterro será às 16h, no Cemitério São João Batista.
Em nota, a Força Aérea Brasileira (FAB) destacou que o Brigadeiro do Ar participou de 94 missões. Segundo a corporação, Rui Moreira Lima, é um herói de guerra e autor do livro Senta a Pua! no qual conta as memórias dos combates no teatro de operações na Itália. Posteriormente, o livro ganhou uma versão em documentário, com o mesmo nome.
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Dentre tudo aquilo que aprendi com ele, mesmo tendo estado perto por tão poucas vezes, na maioria imensa delas apenas como simples leitor ou espectador de suas histórias fantásticas, resta-me dar ao meu “Avozão”, permita-me chamá-lo assim Brigadeiro Rui Moreira Lima, pela última vez, assim como você o fez a muitos dos seus grandes irmãos que partiram anteriormente, um último ADELPHI...
"Os pais e avós que somos hoje queremos repudiar aquelas missões pelo mal que causaram, pois morte e destruição era a mensagem que se levava diariamente sob as asas. Sim, queremos repudiá-las... mas o que volta sempre é a euforia daqueles momentos vibrantes e singelos, o prazer de reconquistar cada dia o direito de viver mais vinte e quatro horas, a tranquilidade de voar com um Amigo ao alcance de cada asa, com um Irmão ao alcance de cada braço". (Do livro "Missão de Guerra" de autoria do Brigadeiro Luiz Felipe Perdigão Medeiros de Fonseca, veterano de guerra do 1º Grupo de Aviação de Caça)
R.I.P.
Brigadeiro Rui Moreira Lima
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Até o próximo post!
Osmarjun!
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